Resina PCR já faz parte do nosso dia a dia e você nem sabia
Imagine uma cadeia em que os resíduos retornam como insumos para fabricação de novos produtos. Na indústria do plástico, a matéria-prima reaproveitada é chamada resina PCR (da sigla em inglês Post-Consumer Resin) ou, mais comumente, plástico pós-consumo.
Como o próprio nome diz, são produtos que chegaram às mãos do consumidor – em sua grande maioria, embalagens e descartáveis – e que retornam às fábricas por meio da reciclagem. Para se ter uma ideia, a produção física de PCR em 2020 foi de 884 mil toneladas, um aumento de 18% na comparação com 2017.
Para onde vai todo esse plástico?
Vários tipos de material plástico podem ser reaproveitados, entre eles o PET (politereftalato de etileno), PVC (policloreto de vinila) e PP (polipropileno). Por conta desta variedade, indústrias dos mais diferentes setores vêm encontrando novas formas de aplicação em seus produtos.
De acordo com levantamento da MaxQuim/PicPlast (números de 2018), entre os grandes consumidores de resina plástica pós-consumo reciclada estão higiene pessoal e limpeza doméstica, construção civil, bebidas, vestuário/têxtil, utilidades domésticas e outros.
Veja alguns exemplos de utilização de PCR:
- Sacolas e sacos
- Embalagens e garrafas
- Baldes e caçambas
- Vestidos, camisetas, moletons e calçados
- Mantas, cobertores e travesseiros
- Telhas, cordas, tubos e conexões
- Capas de proteção para aparelhos celulares
- Partes e forrações para automóveis
- Bancos, móveis, decks, playgrounds
A ABIHPEC, que representa a indústria brasileira de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, coordena há 16 anos o programa de logística reversa Dê a Mão para o Futuro – Reciclagem, Trabalho e Renda, com ações que viabilizam a reciclagem de resíduos sólidos gerados pelo setor.
De 2013 a 2021, o programa somou 802,5 mil toneladas de massa recuperada e encaminhada para reciclagem.
“Precisamos ter ciência de que o processo de aplicação de resina plástica pós-consumo se inicia na etapa de design daquela embalagem que será um dia utilizada e descartada pelo consumidor”, diz a entidade.
Para produzir PCR, a importância da reciclabilidade
Em pesquisa realizada no início deste ano com as indústrias que participam do Dê a Mão para o Futuro, a ABIHPEC identificou as estratégias que aumentam o índice de reciclabilidade das embalagens, ou seja, a possibilidade de elas serem reciclada.
“Tivemos como principais indicadores: desenvolvimento de tecnologias de similaridade de materiais; não utilização de mistura de materiais que não possam ser separados; avaliação da facilidade na ‘desmontagem’ da embalagem; priorização de rótulos que não utilizam cola; priorização de embalagens incolores; e cuidado ao imprimir diretamente na embalagem.”
Segundo a entidade, as indústrias de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos vêm aumentando gradativamente os índices de utilização de resina pós-consumo em suas embalagens, com casos em que já há participação de até 100% de PCR.
E a qualidade?
Uma dúvida recorrente é se a qualidade de um produto fabricado com resina oriunda da reciclagem é confiável. A resposta é: sim. O alto nível tecnológico da indústria de plástico permite que o insumo retornado passe por processos de modificação para ser reutilizado sem perda de funcionalidade.
Em alguns casos, os aditivos são um importante aliado, e podem ser utilizados para neutralizar odores, evitar a ocorrência de defeitos no processo de transformação, reduzir a presença de umidade e evitar a oxidação. Outra função dos aditivos bastante utilizada é o tingimento, uma vez que o plástico que chega da reciclagem vem com pigmentos e corantes empregados na primeira vida.
Muitas vantagens da resina pós-consumo
A ABIHPEC lembra que o sucesso da sustentabilidade está no equilíbrio entre os pilares ambiental, econômico e social, e o uso de resina pós-consumo consegue aliar estes três tópicos de forma bem coordenada:
Ambiental: diminui o potencial de poluição de resíduos a partir da destinação correta das embalagens pós-consumo para a reciclagem; conserva recursos naturais ao utilizar as antigas embalagens plásticas para fabricação de novas; e mantem esta matéria-prima por mais tempo no mercado, ao invés de descartá-la precocemente.
Econômico: a busca do consumidor por produtos cada vez mais responsáveis do ponto de vista ambiental vem aumentando, o que se traduz numa oportunidade de negócio.
Social: A título de exemplo, o programa Dê a Mão para o Futuro beneficia mais de 180 cooperativas de catadores de materiais recicláveis em todo o Brasil, com mais de 6.000 cooperados.
Estes três pilares vêm ao encontro da crescente adequação das empresas ao conceito ESG (da sigla em inglês Environmental, Social e Governance – ou Ambiental, Social e Governança, em português).
Segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), adotar práticas ESG já não é mais um diferencial, mas sim uma necessidade de todos os setores da indústria. “A economia circular é uma das novas práticas que estão sendo implantadas em companhias do país”.